(CARVALHO, 2001, p.5)
6. INFLUÊNCIAS DO CORONELISMO NA POLÍTICA ATUAL
Mesmo após tantas transformações provocadas pela construção de Brasília, as quatro
famílias da análise da pesquisa ainda se fazem presentes no cenário político, não apenas no
município, mas em todo o Estado. Essa presença é intrigante e abre uma grande quantidade de
questões a serem compreendidas. Um dos pontos principais dessa pesquisa é compreender se
o coronelismo tradicional da primeira República, ainda influencia na política atual do
município de Luziânia.
Para isso seguem alguns números nas tabelas abaixo.
Tabela 1- Quantidade de membros das famílias tradicionais nas primeiras legislaturas da Câmara Municipal
Legislaturas 1ª
1947
2ª
1951
3ª
1955
4ª
1959
5ª
1963
Vereadores e suplentes 7 9 8 15 17
Membros das famílias tradicionais 5 7 4 6 6
Reeleições 3 3 3 7
Tabela 2- Quantidade de membros das famílias tradicionais nas ultimas legislaturas da Câmara Municipal
Legislaturas 13ª
1997
14ª
2001
15ª
2005
16ª
2009
17ª
2013
Vereadores e Suplentes 19 21 19 14 19
Membros das famílias tradicionais 8 5 5 4 7
Reeleições 6 4 7 6 5
Analisando os nomes das pessoas que ocuparam os cargos políticos na cidade, é
possível provar que existe uma herança do coronelismo tradicional à política atual, pelo fato
de que, mesmo com o grande crescimento do contingente populacional provocado pela
construção de Brasília e mudanças em várias esferas sociais, como na cultural (presença das
festas nordestinas) e na esfera econômica (sulistas são hoje a elite econômica da cidade), há
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uma permanência do poder político nas mãos das famílias tradicionais.
As tabelas mostram a quantidade de membros das quatro famílias tradicionais
pesquisadas nas cinco primeiras legislaturas da Câmara Municipal de Vereadores e nas cinco
últimas, contando com a atual. Percebemos que em todas as legislaturas sempre teve uma
quantidade significativa de membros dessas famílias, nas três primeiras foram mais da metade
dos vereadores eleitos e nas últimas, mesmo com o grande crescimento populacional e
transformações pelas quais o município passou, os membros das famílias tradicionais estão
entre 20% e 35% do total de vereadores eleitos.
O livro “Genealogias de Santa Luzia” do historiador local Gelmires Reis (1929) ajuda
a comprovar que o poder político da cidade continua nas mãos de uma minoria. Ele organiza a
genealogia de todas as famílias tradicionais da cidade entre o período aproximado de 1800 e
1929. Com este livro e com uma pequena entrevista a moradores mais antigos de Luziânia, foi
possível construir uma pequena parte da árvore genealógica da família Roriz e nela é possível
observar que o grande Joaquim Roriz, o seu primo-irmão Orlando Roriz, o atual prefeito da
cidade e o atual Presidente da Câmara Municipal são todos da mesma linhagem famíliar, que
teve origem com o casamento entre um Roriz e uma Meireles.
Nessa árvore geneálógica é possível perceber muitas características que eram comuns
às elites e que de certa forma algumas delas ainda se fazem presentes. Além da junção de duas
famílias poderosas para concentrar ainda mais o poder econômico nas mãos de uma minoria,
que ocorreu com o casamento entre um Roriz e uma Meireles, há também outra característica
das elites que é o forte patriarcalismo, pelo fato de que na maioria das vezes é herdado apenas
o sobrenome do pai, demonstrando o papel secundário que a mulher foi colocada e a
necessidade de manter e fortificar o sobrenome da família do homem e assim manter o seu
status. Neste período também era muito comum o casamento entre primos para manter esse
poder e o status familiar, como ocorreu com um outro filho de Euphrosina Alvez Meireles e
Joaquim Roriz
Lucena Roriz
Euphrosina Alvez Meireles Laudimiro Adonírio Roriz
Epaminondas
Roriz
Cristovam Roriz
Laudimiro de Jesus
Tormin
Cristóvão Vaz Tormim
(Atual prefeito)
Orlando Roriz
Leonardo Roriz
(ex-vereador)
José Roriz Aguiar
(ex-prefeito)
Antônio Roriz
Murilo Roriz
(Atual presidente da Câmara)
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Laudimiro Adonírio Roriz: “Djalma Roriz, filho de Laudimiro Adonírio Roriz e d. Euphrosina Alvez
Meireles, casou-se com d. Maria Rosa Roriz” (Reis, 1929, p.76)
Leal (1973) apontou que, além do poder econômico e político, os coronéis e suas
famílias detinham também o que ele chamou de poder intelectual. Na primeira parte do artigo,
foi abordada a questão da maioria dos autores regionais, não por coincidência, fizerem parte
das famílias tradicionais de Luziânia e que por esse motivo é importante destacar a tendência
desses documetos em valorizar essas famílias e principalmente reforçar a distinção social.
Além do historiador local José Dilermando Meireles que foi citado anteriormente, Cassiana
Tormin (2002) cita a escritora e historiadora Terezinha de Jesus Roriz Machado para
comprovar o quanto esse poder intelectual influencia nessa distinção social.
A historiadora e escritora Terezinha de Jesus Roriz Machado, inclui em suas narrativas históricas a
atuação do Pe. Bernardo Stockler, carregada de muitos elogios. Personagem considerado imporantante
para a cidade, o padre chegou em Luziânia na década de 1940 e encontrava-se sempre acompanhado
“pelo seu dedicado amigo José da Costa Aguiar (...) para melhor situar no tempo quem era José da
Costa Aguiar, grande merecedor de nosso respeito e gratidão, diremos tratar-se do virtuoso cidadão já
falecido, pai extremoso do senhor Ramiro Aguiar, ilustre luziano, [...] e avô, pelo lado materno do Dr.
Joaquim Domingos Roriz, insigne filho de Luziânia e digníssimo primeiro governador eleito por
Brasília. (RORIZ, 1996, p. 84; apud. TORMIN, 2002, pgs. 54 e 55).
É possível dizer que o prestígio destes sobrenomes no cenário político é a grande
herança deixada dos grandes coronéis aos políticos atuais de Luziânia, porém é este prestígio
construído por essas famílias no imaginário popular através da exaltação da suas histórias na
cidade e também pela ideia de que Luziânia deve manter sempre o seu tradicionalismo
político e religioso que fazem com que elas continem presentes na política local.
Outro fator que pode contribuir para esta permanência é a falta de identidade da nova
população com a cidade (segundo dados do IBGE a população de Luziânia entre 1950 e 1980
cresceu 42 vezes), porém, para compreender isso, seria necessária uma pesquisa muito mais
ampla, buscando compreender o pensamento da população, tanto a população imigrante,
aquela que trabalha em Brasília e que faz de Luziânia uma cidade-dormitório, tanto a
população mais tradicional, com enraizamento na cultura e política da cidade, aquela que
defende com unhas e dentes o tradicionalismo dessa cidade. Seria necessário também,
entender conceitos como de identidade e relações sociais.
Atualmente os políticos não fazem mais parte da elite econômica do município tal
como os coronéis, que utilizavam esse poder econômico como arma de dominação política,
hoje a prática clientelista moderna é a única forma de dominação política e esta existe pelo
fato de que os políticos, não apenas os de Luziânia, mas de grande parte do Brasil,
continuaram com a convicção de que estão acima da lei e com o uso do poder, seja simbólico
ou material, (em Luziânia o sobrenome muitas vezes já garante esse poder simbólico), para
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assim conseguirem empregos, contratos, financiamentos, subsídios e outros favores para
enriquecimento próprio, da parentela e da sua clientela, que continuará elegendo e mantendo
estas famílias no cenário político local.
fonte trabalho de : Victor Vieira da Rocha1
(Orientador) Reinaldo de Lima Reis Júnior2
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