Em primeiro lugar, é importante compreender que
a direita sempre teve força no país. Chegou a perder força quando
perdeu o governo central, mas manteve espaços de poder – inclusive no
governo, mas principalmente na mídia e nas instâncias de controle
econômico na sociedade. Em segundo porque, apesar do seu modelo
econômico ter fracassado, levando à vitória de propostas políticas e de
modelo económico-social contrárias às suas, a direita conta com a
hegemonia das idéias conservadoras e egoístas na sociedade. O “modo de
vida norte-americano” deitou raízes profundas na sociedade, em todas as
camadas sociais e, com ele, o egoísmo, o individualismo, o consumismo, a
discriminação, o racismo, a falta de solidariedade social.
Esses valores têm no monopólio privados dos meios de
comunicação uma maquina para sua propagação. Criam e multiplicam na
sociedade valores negativos, de egoísmo e de discriminação em relação
aos pobres e aos mais vulneráveis.
Mas esses mecanismos já existiam. O que fez com que a direita se fortalecesse a partir das últimas eleições?
O alinhamento total dos meios de comunicação e do
grande empresariado contra o governo e o PT levaram a uma campanha
brutal de desqualificação, semeando o ódio e o preconceito. A campanha
teve efeito, levando a que a vitória da Dilma – que se projetava como
tranquila – se desse numa margem apertada e a que os candidatos de
esquerda, tanto a governos de estado quanto ao Parlamento fossem
atingidos.
Como resultado, o ódio semeado contra o governo levou
a campanha de desqualificação do novo mandato da Dilma e a um Congresso
mais conservador.
Mas esses fatores forem multiplicados por erros
graves de condução política por parte do governo e do PT. Tudo se deu
como se o governo Dilma tivesse terminado antes do final do seu mandato e
tivesse demorado para começar. Nesse vazio, uma candidatura que
representa o pior do PMDB se articulou intensamente, durante alguns
meses, e tornou-se favorita para presidir a Câmara dos Deputados, diante
dos olhares paralisados do governo e do PT.
Quando essa candidatura se havia tornado amplamente
favorita, a má atuação do governo e do PT coroou-se com o lançamento de
uma candidatura própria, sem nenhuma chance de vitória e que facilitou a
ação da oposição, ao apresentar o candidato “governista” que a oposição
necessitava. Foi uma derrota anunciada e acachapante, desmoralizante
mesmo para o governo e para o PT, que ficou fora de cargos importantes
na mesa e nas comissões.
Ao mesmo tempo, o governo lançou um plano de ajuste
que tocava nos direitos dos trabalhadores, apesar das promessas em
contrário durante a campanha eleitoral. O governo não conseguiu
convencer da necessidade do ajuste, de que não afetava os trabalhadores e
de que conduziria à retomada do crescimento, dado ainda mais desmentido
pelas seis subidas das taxas de juros desde as eleições.
Os seis primeiros meses do novo mandato foram
totalmente ocupados pelo tema do ajuste e dos cortes correspondentes,
que o governo não conseguiu convencer de que não tocavam nas políticas
sociais. Uma política “maquiavélica” ao contrário: as coisas ruins foram
reiteradas durante seis meses e as boas, quando surgiram – pacote de
investimento em infraestrutura, acordos com a China – foram anunciadas
como relâmpagos e desapareceram.
Com efeito, mudou radicalmente a correlação de forças
políticas no pais. O governo e a esquerda passaram à defensiva e
perderam completamente a capacidade de iniciativa. Propostas como as que
a Dilma apresentou depois das manifestações de junho de 2013, assim
como a de uma Assembleia Constituinte, ficaram totalmente
inviabilizadas. Ao contrário, foram aprovadas ou avançam projetos de
retrocesso aberto – maioridade penal, terceirização, PEC da bengala,
sobre o pré-sal etc.
O resultado não poderia ser mais devastador em termos
de perda de popularidade: não ganhou setores do “mercado” e perde apoio
nos setores populares. O governo está sendo devastado pelas campanhas
da mídia, sem ter ainda avançado nas medidas de democratização dos meios
de comunicação, que, ainda que limitadas, poderiam remediar a situação.
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